O CONCEITO DE SERVIDÃO VOLUNTÁRIA: REFLEXÕES E DIÁLOGOS COM A GESTÃO DE PESSOAS

Victor Cláudio Paradela, Yuri de Paiva Pifano, Débora Vargas Ferreira Costa

Resumo


Há cinco séculos, Étienne de La Boétie propôs o conceito de servidão voluntária, destacando que nem sempre o cerceamento da liberdade e a submissão a arranjos sociais injustos se dá por meio da coerção, da ameaça ou de barganhas. Constatou que muitas pessoas se submetem a sistemas opressivos e exploradores sem resistência, podendo assim agir por vontade própria e até mesmo demonstrar satisfação, a despeito das posições de inferioridade em que se encontram, sendo explorados por outros. Muitas vezes, mesmo diante de oportunidades de lutar pela liberdade, os servos consentem com o sofrimento a que estão submetidos ou mesmo o procuram. Partindo do pressuposto de que se trata de uma situação ainda encontrada no mundo contemporâneo, o artigo procura compreender melhor essa ideia, dialogando com outros estudiosos e com obras literárias que retratam a natureza humana e fenômenos sociais. Com base nessas reflexões, é desenvolvida uma análise crítica de algumas questões relacionadas à Gestão de Pessoas, demonstrando como a servidão voluntária pode ser observada em vários aspectos das relações de trabalho e das práticas gerenciais. O texto foi desenvolvido na forma de um ensaio teórico, valorizando, portanto, insights e análises subjetivas.

Palavras chave: Servidão voluntária. Comportamento humano. Gestão de Pessoas.


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DOI: https://doi.org/10.22408/reva50202064602-25

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